Submetido a viver por muitos anos sob a tutela masculina, o “sexo frágil”, como socialmente é conhecido, esteve relacionado por muitos anos às tarefas domésticas. O direcionamento de funções ligadas ao âmbito familiar confere-se por diferentes noções, muitas vezes enraizadas em culturas milenares, que se perpetuam até os dias atuais. Parece comum recorrer ao argumento histórico, quando buscamos comprovar que o papel social da mulher foi estabelecido através de uma posição central que teve por muitos anos a licença de julgar o “outro” (Beauvoir, 1970).
Ao citar “culturas milenares”, um território escorregadio, não é de finalidade propor uma visão etnocêntrica, desqualificando, assim, os demais costumes. Buscamos, no entanto, trazer à tona a diversidade que está em torno do comportamento humano, quando se faz alusão aos papeis sociais, e observar que, infelizmente, ainda é comum ver a subjugação da mulher nas diferentes culturas.
Após abrir um pequeno espaço para essa informação adicional, deslocando-nos para o atual contexto sócio-político, resultado de umárduo passado histórico, ainda vemos como resquícios desse conjunto de questões interferem, pondo barreiras ou até mesmo bloqueando as possibilidades de inserção da mulher nos espaços considerados majoritariamente masculinos.
Desse modo, não podemos avançar para uma análise de conjuntura numérica atual sem antes relembrar fatos históricos que exibiram uma tentativa de rompimento significante do pensamento pós-moderno, com as suas problematizações, e a visão andocêntrica, esta caracterizando-se pela supervalorização do sexo masculino em oposição ao feminino.
Diante disso, após as grandes mudanças comportamentais da passagem do séc. XVIII para o séc. XIX, promovidas, principalmente, pela Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, novos caminhos foram tomados como modelo econômico e social,desenhando, assim,transformadoras formas de produção e relações comerciais.No quadro apresentado, se rearticulava as posições sociais e, com isso, havia um reforço dos bloqueios de ascensão da classe que começava a se formar: a operária.
A concentração do capital era, portanto, o que formava hierarquicamente uma camada gerente, ou seja, torna-se mais visível a posição categoricamente institucionalizada do patrão em contraposição ao operário.Sabemos que esse desigual painel advém de fatos históricos bem anteriores à pós-modernidade, mas que, para entender o atual cenário, resgatamos um passado próximo que contribuiu notadamente para as lutas atuais.
Diante desse pequeno esboço, talvez seja natural que você esteja se perguntando: qual a ligação que existe entre a discussão gerada em torno da mulher e essas informações históricas? É significativo repetir que os papeis sociais continuavam a ser definidos pelo olhar do homem, ou seja, isso acontecia por que existia uma credibilidade muito forte em suas potencialidades intelectuais, bem como, de valor civil. A mulher era vista como, em expressões comuns, “cuidadora do lar” e “ser responsável pela reprodução”.
No entanto, por força das novas necessidades de produção e consumo, a economia passou a exigir mais mão-de-obra para preencher as indústrias e, assim, contribuir para o considerado “capitalismo tardio”, termo levantado por Giséle Fernandes (2009). Com isso, a mulher é inserida no campo de trabalho externo, mas as obrigações simbólicas do lar ainda são dirigidas a ela e impostas como atividades que avaliariam o seu conceito ético e moral.
Concluímos, portanto, que a sobrecarga passa a ser uma problemática adicional em suas experiências. Todavia, mesmo diante disso, essas mudanças contribuíram em cheio para fazer do final do séc. XIX e início do séc. XX, um período próspero no que diz respeito aos discursos pós-coloniais que abraçaram as minorias, com elas, a luta por direitos iguais em gênero eclode como o marco de grandes modificações.
Não é sem propósito expor que “as minorias” são referenciadas por um conceito político e não numérico, mas que exibem a oposição da disputa entre classes, onde o capital oferece subsídios para impor à classe trabalhadora os modelos a seres seguidos. Nessa perspectiva, antes de disseminar que as lutas feministas resumem-se à exibição do corpo da mulher na busca pela conquista da liberdade sexual, manifestação extremamente importante, compreenda que é, antes de tudo, uma condição política.
Ao presenciarmos ao nosso redor a disparidade que há em questões salariais; “Homens recebem salários 30% maiores que as mulheres no Brasil”; dados publicados pelo Branco Internamericano de Desenvolvimento – PIB e disponibilizados publicamente; na ocupação de cargos representativos no Congresso Nacional; “No senado, a representação feminina atualmente não chega a 15%”;dados divulgados pelo observatório Brasil da Igualdade de Gênero, e, por fim, no alto índice de violência física, bem como psicológica, sofrida pela população feminina, percebemos como ainda há uma forte cultura machista que segrega as posições sociais de acordo com o gênero.
Trazendo esses dois simples exemplos percentuais como argumento comprovativo que exibem a subjugação vivida pela mulher, o combate ao direcionamento das atividades destinadas ao público feminino é o ponto chave para promoção da igualdade. Sendo assim, o espaço de fala concedido à mulher, bem como a oportunidade de tocar em questões que ainda, mesmo diante desse quadro desigual, incomodam, permanece sendo uma contínua luta e, sobretudo,um ato de coragem.
POR: Daynara Côrtes