OPINIÃO: Um pouco mais de Brasil e menos de França, por favor!

Imagem compilada do site: optclean.com.br
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Nos últimos dias, o mundo viu, atônito, a brutalidade animalesca do radicalismo religioso, concretizado nos ataques terroristas na França, de autoria do Estado Islâmico – EI. Nem é preciso que se diga o quão reprováveis e cruéis foram esses atentados, tampouco que se instigue compaixão pelas vidas inocentes que lamentavelmente se perderam, pois, assim como a crueldade foi visível, fomos também arrematados pelo mais sincero dos sentimentos de tristeza e consternação pelos que sofreram.

O terrorismo (ora imbuído de radicalismo, ora de desejo pelo poder) vem, ao longo dos anos, tentando destruir ideais que foram construídos “a ferro e fogo” na luta contra a opressão e a tirania, a exemplo do famoso tripé iluminista: LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, que por coincidência, tiveram seu desabrochar na Revolução Francesa de 1789. São princípios caros num Estado Democrático de Direito e jamais devem ser expurgados ou esquecidos, sob pena de mergulharmos no mais profundo estado de arbitrariedade, outra vez. Sem dúvida, algo precisa, de fato, ser feito no afã de reprimir fortemente o terrorismo e proteger tais princípios.

Aqui no Brasil, os reflexos desses atentados geraram comoção nacional, refletida em diversas manifestações populares espalhadas em vários estados e nas redes sociais. Nestas, por sinal, houve a maior representação do que vos digo. O Facebook mudou! As cores da bandeira francesa foram vistas nas fotos dos perfis de modo como jamais se viu. O reflexo desses atentados chegou até mesmo ao Executivo Federal e fez com que a nossa presidenta declarasse que “somos todos franceses”.

Inusitado que, quase simultaneamente aos ataques do Estado Islâmico na França, no Brasil, ocorreu um dos maiores (senão o maior) dos desastres ambientais de nossa história e isso não recebeu o mesmo tratamento ou, pelo menos, não gerou a mesma comoção como ocorreu com a França. Ficou bem claro, no início dessa exposição, que não menosprezo o que aconteceu lá, mas espere um pouco. Vidas e histórias se perderam com o desastre em Mariana – MG. Todos os anos, deslizamentos de terra no Rio de Janeiro, enchentes que afetam os estados do Norte do país e outras tragédias também matam inúmeros brasileiros. Porém, não avisto grandes manifestações de apoio, nem por parte do nosso povo, nem por parte dos nossos Governos. Seguindo essa lógica, as cores da bandeira do Brasil deveriam constar dos perfis das pessoas o ano inteiro. Nós já temos muitos graves problemas, não acham?

Esta uma baderna aqui! Corrupção escancarada, a falta de ética e decoro da grande massa de nossos políticos, o país afundando numa crise econômica sem perspectivas de melhora (diga-se de passagem, uma crise econômica gerada por uma “CRISE ÉTICA E POLÍTICA”), sem falar que praticamente vivemos num “estado de guerra”. Todos os dias, a violência urbana ceifa a vida de inúmeros brasileiros, talvez até em saldo superior ao que se viu em França. Em nossos hospitais, não são poucas as vítimas de um atendimento precário e desumano, que muitas vezes tem como resultado a morte. Como se isso não bastasse, ainda ocorre uma tragédia como essa de Minas Gerais. Pode-se até calcular o prejuízo financeiro do que aconteceu, mas incalculáveis são as vidas e as histórias que se esvaíram e os impactos ambientais gerados. No final, percebe-se que a má gestão do país, de certa forma, contribuiu para esse resultado, uma vez que já se detectou falhas na fiscalização dessas barragens, por parte do Governo.

Quanto a atitude da presidenta em declarar apoio à França, fez sua obrigação! O Brasil possui hoje certo destaque no cenário internacional e precisa se posicionar e se prontificar a ajudar. No entanto, é preciso olhar pra cá com os mesmos olhos. A soberania, fundamento da República Federativa do Brasil, se manifesta não somente na edição de medidas provisórias, no ato de sobrevoar as áreas atingidas por um desastre ou mesmo fazer acordos econômicos internacionais, mas também através de um cuidado maior com nação e seu povo. Aliás, sem este, não há que se falar em nação, de fato.

É preciso resgatar, portanto, o sentimento de valorização do nosso país e do nosso povo (nacionalismo). Não o nacionalismo exacerbado, como o fascismo ou nazismo, que culminaram em atrocidades sem medidas, mas um sentimento que se volte para nós, com vistas a resolver, verdadeira e eficazmente, nossos mais graves problemas. Um nacionalismo marcado pela ética, pela sensibilização aos problemas do nosso povo e aos do meio ambiente e, sobretudo, marcado pelo mais nobre sentimento de fraternidade e compaixão.